Exemplos do país em que vivemos - o caso do IPA
Que a actual Ministra da suposta Cultura, Isabel Oxigenada Pires de Lima, quer extinguir à força toda uma série de organismos públicos como o Instituto Português de Arqueologia (IPA), já não é novidade para ninguém. Para quem está de fora do tema, o IPA só (!) regula todo o tipo de intervenções que incidam sobre o património arqueológico português e controla a classe de forma a que não hajam os habituais atropelos de à umas décadas atrás (embora alguns ainda subsistam). E confiem no que vos digo porque tive hoje um teste exactamente sobre legislação em Arqueologia.
Parece-vos um instituto que faz falta ao país, que parece específico demais mas que trata de um assunto que é de todos (o património arqueológico)? Pois a mim também me parece que faz falta. Se o Governo viesse agora para a rua dizer que ia extinguir outros organismos como o Instituto Português de Oncologia (só uma minoria da população tem doenças cancerígenas mas pode acontecer a todos), o Instituto Português de Museus (embora poucas pessoas vão a museus todos reconhecem a necessidade deste organismo) ou o Instituto Nacional de Emergência Médica (também relativamente pouca gente precisa do INEM mas é bom saber que ele existe e está lá para qualquer imprevisto), seria uma escandaleira de todo o tamanho, não é verdade? São todos osganismos destinados a uma minoria específica mas utilizáveis pela totalidade da população portuguesa e penso que nenhum de nós tem complexos em saber que parte dos seus impostos são destinados a suportar estas instituições.
Pois, isto é tudo muito bonito mas a verdade é que o Ministério da Cultura pretende extinguir o IPA e que as suas competências sejam fu(n)didas com as do seu irmão mais velho, o Instituto Português do Património Arquitectónico. Eles garantem que, em termos práticos, nada mudará mas poucos acreditam nisso. A começar pelos funcionários, avençados e bolseiros do IPA, para quem a perda de autonomia desta instituição não é de certeza boa notícia (sim, há gente que tem que ganhar a vida com a Arqueologia em Portugal).
O IPA nasceu mal, com uma gestação prematura e com adversidades logo na incubadora, como dizia o outro, cresceu bem ou como podia e, agora com quase 9 anos de existência mas uma maturidade de saudar pelo trabalho desempenhado, esta iluminada está alegremente a afiar a naifa para lhe dar uma facadinha nas costas. Mas de onde veio a antipatia da Ministra pelo IPA? Não sei e, provavelmente, nem ela própria saberá ao certo, senão vejamos:
O que é que mudou de lá para cá, do «exemplo de sucesso» para o «organismo inútil e sorvedor de recursos estatais»? Apenas 4 anos... Ah sim, claro, e um pequeno pormenor: esta gaja e os seus amiguinhos estavam na altura na oposição e agora são governo! E cá em Portugal é assim: quando somos oposição trata de fazer o papel de ombro amigo de todos aqueles afectados pelas brutalidades do governo e, quando somos governo, trata lá de pôr em prática as brutalidades dos outros porque aquilo não interessa para nada. O que faz falta a este país é a Ota e o TGV que, isso sim, vai beneficiar todos os portugueses por inteiro e mais alguns!
Moral da história: não interessa a cor política - eles são todos iguais! O que agora dizem amanhã desdizem. É o país que temos e são eles que mandam e não há nada a fazer. Ou haverá? À 32 anos uma minoria da população (alguns militares) desencadeou uma acção de protesto contra o seu envio forçado para combater a guerra dos engravatados de Lisboa em África, uma acção que depois se alastrou e depois... mas isto sou eu já a divagar. Mas a verdade infelizmente é esta.
A meses (se não ocorrer até lá nenhum imprevisto) de me formar como arqueólogo, não posso de maneira nenhuma prespectivar um bom futuro para a Arqueologia portuguesa com este tipo de medidas. É triste, mas o nosso futuro depende destes chupistas que não têm outro nome e que nunca tiveram um calo nas mãos. E, ao menos, não podemos ficar calados perante isto.
Pois parece que mais nada há a fazer... Ou haverá?...
2 comentários:
O problema é que a luta nunca começou. Perante todas as medidas idiotas que foram feitas contra a Aqueologia portuguesa, a comunidade arqueológica nacional (a começar pelas "classes dirigentes"), na maior parte dos casos, sempre reagiu com passividade.
Somos nós, que ainda temos que lutar por um lugar ao Sol, que temos que reagir e lutar pelo direito ao inconformismo. Porque quem já lá está, como sempre, não vai querer mexer uma palha.
Achas mesmo que sim? O 13 de Maio já passou; já não há mais milagres!
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