Grandes portugueses: o "day-after"
Finalmente acabou o concurso Os Grandes Portugueses. Como eu tinha dito dois posts antes, hoje é dia de comentar, pois amanhã já todos se esqueceram. Ficam alguns pontos e reflexões:
1- Tal como se esperava, quem ganhou foi o Toninho da Calçada. Isto revela muita coisa sobre este país: ainda existem alguns saudosistas, muitos revoltados contra tudo e todos que escolhem a maneira mais fácil de mostrar o seu desagrado e, sobretudo, ainda demasiado ignorantes. Neste aspecto pouco evoluímos nas últimas décadas. É um facto e esta é só mais uma prova de que o 25 de Abril, na sua essência original, falhou. Assim não vamos nem iremos lá nunca. Como eu já tinha dito, o país teve o resultado que merecia.
2- Comprovou-se que a votação foi uma farsa. Venceram os lobbies e partidários que apoiavam esta ou aquela personalidade. Só assim se explica os improváveis três primeiros classificados, sobretudo a partir do momento em que surgiu o boato de uma batalha feroz entre o primeiro e o segundo. E todos nós sabemos o poder de um boato neste país.
3- Mais uma vez se viu a crónica memória curta do povo português. A inclusão no grupo dos dez finalistas de quatro personalidades do século XX mostra bem isso. Se olhar-mos para a História com olhos de ver, chegamos à conclusão que o século XX (juntamente com o XVII) foi um dos séculos que menos motivos de orgulho deu ao povo português. Alguma culpa para a educação que é dada neste país mas sobretudo pela falta de interesse dos portugueses pelo seu passado.
4- Parabéns para a empresa produtora do programa que amealhou cerca de 200000€ só em chamadas para votos. A sensacionalista campanha de marketing valeu a pena e os resultados estão à vista: toda a gente falava do programa e a RTP garantiu boas audiências.
5- Bem feita para a RTP que, com este programa perdeu o estatuto de estação pública com maior credibilidade junto dos telespectadores. Se a TVI tivesse produzido o concurso ninguém lhe daria importância (era ver a malta dos Morangos Com Qualquer Coisa nas primeiras posições). Sendo a RTP, julgavam os espectadores, isso seria uma garantia de rigor e, em vez de entretenimento, teriamos uma coisa à séria e onde se aprenderia algumas coisas sobre a nossa História.
6- Foi engraçado ver algumas reacções no estúdio, como a indignação de Odete Santos e o sorrisinho de Paulo Portas. De destacar o bom senso de dois ou três dos outros defensores.
7- É bom para as tardes mortas da Assembleia da República porque agora os deputados já têm mais uma coisa com piada para atirar à cara uns dos outros.
8- É bom também para o Valentim Loureiro que, se queria ser julgado na televisão, sabe assim que pode muito bem sair de lá totalmente ilibado e com uma indemnização choruda por danos morais e psicológicos.
E pronto, o espectáculo acabou, voltemos lá para as nossas vidas que há coisas mais sérias em que pensar neste país. Parafraseando a música da semana, o que se passou ontem foi apenas mais um samba no país do Carnaval.
1 comentário:
Só sei que cada vez vez menos TV (nem as espanholas, vejam lá)...
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